"Aquela pobre vaquinha indo para o matadouro,
tão velha e magra que tem os ossos furando o couro.
Parece que ela advinha que caminha para o fim.
Se ela pudesse dizer, talvez nos diria... assim:".
Meu boiadeiro me levando à morte,
Dei minha vida para lhe ajudar...
Meu leite puro é que matou a fome
De seus filhinhos, que ajudei criar.
Os meus filhinhos você levou embora.
Uns para o corte e outros no estradão...
Puxando carro pelo chão do mundo,
De dor, sangrado pelo seu ferrão...
Um obrigado eu esperava ouvir agora,
Porém, só ouço a chicotada da partida.
Meu coração, entristecido, está chorando
A ingratidão de quem tanto ajudei na vida.
Hoje estou velha, pra mais nada presto...
A minha morte só lhe satisfaz.
Vivi a vida só lhe dando lucros,
Sem o direito de morrer em paz...
Quando sua faca atravessar meu peito
E o meu sangue lhe escorrer na mão,
Por sua pobre ignorância humana,
Meu boiadeiro, lhe darei perdão.
Um obrigado eu esperava ouvir agora,
Porém, só ouço a chicotada da partida.
Meu coração, entristecido, está chorando
A ingratidão de quem tanto ajudei na vida.
Após a morte, eu serei seus passos,
No seu calçado feito com meu couro...
Serei o cinto pra enfeitar madames,
Serei a bolsa pra guardar seu ouro...
Desde o início da humanidade,
Quando, em Belém, viram a Divina Luz,
O meu calor, na fria manjedoura,
Fui eu que um dia aqueci Jesus...
Um obrigado eu esperava ouvir agora,
Porém, só ouço a chicotada da partida.
Meu coração, entristecido, está chorando
A ingratidão de quem tanto ajudei na vida.